Comecei orando por um pão,
acabei rezando por um caixão.
Disseram que Deus ia me pagar —
mas Ele parcelou minha dor
em prestações de humilhação.
Queria que um raio
caísse na minha cabeça.
Queria que um ônibus
me acertasse bem no meio do crânio.
Queria ser estadunidense...
Pra comprar um cano
e perder a razão,
fuzilar uns quinze
da minha época de escola,
e depois enfiar uma bala
no meio da minha cachola —
só esperar aparecer na televisão.
Odeio viver perambulando,
sem expectativas se amanhã
vou ser obrigado a viver.
Mesmo no dia do pagamento,
a tristeza chega sem querer saber.
Eu precisei ir me encontrar,
mas acho que caí no conto do vigário.
Pois trabalho há mais de dez mil anos,
e ainda não tenho um carro me esperando,
nem uma casa pra chamar de minha.
Queria pular no rio Pinheiros,
cheio de pedras — pra não ter risco de nascer.
Queria ser jogador, rico e famoso,
com cabeça que nem peito de frango,
tendo diálogos sem precisar entender.
Mas que pena que Deus é gozador,
ele adora uma brincadeira.
Deu pro rico, player da vida, o jogo todo feito,
mas pro pobre tem que aprender a montar o jogo primeiro.
Se você se arrisca,
a polícia vem e mete a porrada bem no meio.
Já tô de saco cheio.
Ainda tem quem diga
que basta ter fé e pensar positivo.
Crente que grita "amém"
com o bolso cheio
e o estômago vazio dos outros.
Não se importam com os irmãos
que não têm feijão.
Obrigam a dar seu dinheiro
e viver igual filha da puta.
Enquanto o gado fala de moral,
com arma na mão e ódio no olho.
Dizem que Deus está no comando —
mas eu só vejo bala, fome e desespero.
Se isso era “tudo que eu sempre sonhei”,
me devolve o sono e leva embora esse pesadelo.
Se já era igreja, já era fé, já era Deus —
só sobrou a cruz, e ela pesa só nas minhas costas.
Autor: Mateus Roberto
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